domingo, 14 de novembro de 2010

Actividade 3 -TIC em Educação - Teorias da Aprendizagem Humana



.Como é que as pessoas aprendem? Concepções e experiências pessoais.
Principais teorias da aprendizagem: definição, princípios e impactos no trabalho educativo?
Que relação entre as abordagens à aprendizagem e as TIC? 


Como é que as pessoas aprendem? Concepções e experiências pessoais

Esta temática foi estudada ao longo dos tempos. Nos primórdios da filosofia, a preocupação com a origem e natureza do conhecimento foram centrais nos pensamentos de Platão e Aristóteles. Ao longo da história da filosofia no ocidente, vários pensadores se debruçaram sobre as teorias destes filósofos, naturalmente relevantes para a educação. Hoje em dia, estas questões não são já exclusivas preocupações dos filósofos que se dedicam à problemática das questões epistemológicas, mas têm sido objecto de investigação dos denominados cientistas cognitivos. As Ciências Cognitivas referem-se ao estudo interdisciplinar relativo à cognição, aquisição e à utilização do conhecimento.
Na minha óptica, as pessoas aprendem de variadíssimas formas, tanto com mais eficácia e proficuidade quanto mais diversidade de técnicas estimulam o intelecto e a maleabilidade do cérebro. Em primeira instância, há que verificar os denominados pré-requisitos, conceitos prévios que os alunos têm de como o mundo funciona, pois sem haver essa preocupação, haverá uma maior dificuldade na compreensão de novos conceitos e informações (daí a importância da realização de testes diagnósticos sérios e adaptados). Se não considerarmos os conhecimentos prévios dos alunos, podemos incorrer na possibilidade destes estudarem apenas para o teste, respondendo apenas o que “o professor espera”, não ajudando os alunos a aprender de forma útil, a ter uma visão dinâmica das matérias. Pela minha experiência, e transversal a qualquer nível de ensino, e com vista ao desenvolvimento real de competências por parte dos alunos, estes têm que possuir um suporte sólido de conhecimento factual e saber organizar o conhecimento para facilitar a recuperação das coisas preexistentes que se desconhecem (apelidá-lo-emos de inconsciente do conhecimento) e posterior aplicação dos conhecimentos adquiridos. A estrutura cognitiva do nosso cérebro carece de organização e estruturação do conhecimento – daí a relevância da organização e sistematização dos processos de ensino-aprendizagem. Da perspectiva cognitivista podemos retirar a forma organizada como a apreensão de conceitos funciona e consequente aplicação do conhecido através da relação com os outros e o mundo em geral. Se, a esta concepção, aliarmos um método claro de exposição dos objectivos pretendidos aos alunos, para que estes assumam o controlo da aprendizagem, monitorizando o processo, estamos a facultar-lhes ferramentas para pensarem autonomamente.  O que defendo é que a transmissão de conhecimento deve ser feita sempre atendendo aos conhecimentos prévios dos alunos e com recursos a vários exemplos onde se integre o conceito a explicar.
É possível retirar apenas o que é bom das várias teorias da aprendizagem e concentrá-las numa prática docente verdadeiramente profícua, eficaz, integradora e potenciadora do desenvolvimento do indivíduo? Não me parece! Não existem professores nem alunos perfeitos e/ou ideais, nem o mundo o é! No entanto, podemos e devemos retirar o que de melhor existe nas várias concepções da aprendizagem, muito debatidas e desenvolvidas nos últimos 100 anos. Da concepção tradicional, pouco retiraria, (apenas o método verdadeiramente expositivo numa fase inicial e contextualizante) pois o ensino centrado no professor e na mera reprodução de conceitos não fará com que o aluno realmente desenvolva o pensamento e raciocínio próprio, não tendo, para além disso, obviamente, os alunos, o mesmo ritmo de aprendizagem. O ensino hoje em dia encontra-se em transformação (como sempre), e dado a exponencial explosão da informação, acessibilidade, alteração de valores tradicionais, mediatização da sociedade, etc., existe a necessidade de haver uma abertura e investigação constante por parte do professor, sempre verificando a melhor forma de lidar com os alunos e deles retirar o melhor (estímulo / reforço), ao mesmo tempo que lhes devemos proporcionar as ferramentas para pensarem por si próprios. Da pouca experiência que possuo, e sobretudo em adolescentes, o ensino tendo em atenção as concepções construtivistas do conhecimento é o que mais se adaptará a sociedade actual, dada a informação disponível hoje em dia, dada a experiência individual cada vez mais rica dos alunos, dada a necessidade de integrar o ensino com a dinâmica social, cultural e interaccionista existentes.



Principais teorias da aprendizagem: definição, princípios e impactos no trabalho

De uma forma muito geral, a aprendizagem é um processo de construção pessoal, de experiência interior e que pressupõe modificação de comportamentos no indivíduo. Seguir-se-á uma breve e resumida caracterização, sobretudo das vantagens e desvantagens de cada uma das 4 principais teorias da aprendizagem.
Na teoria behaviorista / comportamentalista, o indivíduo aprende por associação e/ou resposta, fazendo dele um agente passivo. Esta teoria teve origem no princípio do século XX, com os primeiros estudos de aprendizagem da Escola Russa de Reflexologia, com Pavlov e Watson. Esta teoria teve várias fases, teses e autores. Segundo o condicionamento clássico destes pensadores, o comportamento do aluno é em função do estímulo, o ensino seria o fornecimento de estímulos adqueados por parte do formador, dependendo a aprendizagem apenas dos estímulos fornecidos. Segundo o condicionamento operante de Skinner, o ensino funcionaria como o adequar das contingências de reforço ao aluno, devendo o professor fazer surgir o comportamento desejável, usando os estímulos e reforços apropriados. Esta concepção e aplicabilidade diminui o papel do aluno enquanto construtor da sua própria aprendizagem, e, por outro lado, o reforço nem sempre funciona devido aos diferentes significados e consequências para cada aluno. É um método que se adequava aos objectivos de massificação do ensino.
Para Bandura, a aprendizagem dá-se por referência ao vículo social, sendo esta uma observação da execução de modelos sociais e das suas respectivas consequências. Porém, a aprendizagem pode acontecer em situações sociais, mas nem todas as aprendizagens. Por outro lado, um indivíduo não necessita de experimentar todos os passos através de um comportamento mais complexo para o aprender, muitos comportamentos podem ser facilmente ensinados por exposição ao modelo. Como grande vantagem, os indivíduos intervêm no processo de aprendizagem.
Nas teorias cognitivistas, há um reconhecimento da importância dos processos internos na modificação do comportamento humano, e, consequentemente, na aprendizagem. Nesta aprendizagem, O conteúdo que vai ser aprendido não é dado, mas descoberto e incorporado. O padrão de comportamento é resultante de estruturas orgânicas inatas. Estas teorias identificam as várias estruturas e processos subjacentes ao acto de aprender. Se por um lado, tais concepções reduzirão a importância da relação com os pares, atribuem importância às características de cada indivíduo e a sua experiência anterior, sendo a aprendizagem uma atribuição de significados e intencional. É um processo de ensino baseado no ensaio-erro, na pesquisa, na investigação e na solução de problemas.
As teorias humanistas dão ênfase à dimensão relacional da aprendizagem, sendo esta centrada na pessoa. Promovem valores como autenticidade, confiança, respeito, aceitação e tolerância, sendo a aprendizagem um processo com uma tendência actualizante, não directiva, com base numa aceitação de opiniões positiva e incondicional, promovendo uma compreensão empática entre professor e aluno – tendo sempre como suporte a congruência atitudinal.
A aprendizagem dá-se num espírito de liberdade, colaboração, criatividade, espontaneidade e empatia. Como vantagens, facilita a aprendizagem, dada que esta é percepcionada pelos alunos como relevante. Por outro lado, uma aprendizagem que implique mudanças na percepção do self do aluno poderá tender para a resistência. Esta concepção de aprendizagem pressupõe e promove a auto-iniciativa do aluno, concretizando-se realmente quando o formador é autêntico. Para uma aprendizagem adequada torna-se necessário que o formando aprenda a aprender, sendo receptivo e, simultaneamente, opinador e construtor do próprio conhecimento. As estratégias e técnicas de ensino têm, de um certo ponto de vista, importância secundária, interessa mais o desenvolvimento da pessoa com liberdade para aprender, é um ensino centrado no aluno.



Que relação entre as abordagens à aprendizagem e as TIC?

As TIC, enquanto instrumento fundamental nos dia de hoje em qualquer âmbito disciplinar, constituem um desafio no que diz respeito à integração e relação com as teorias da aprendizagem atrás referidas. Em primeira instância, e sem grande aprofundamento, as TIC em educação enquadrar-se-ão automaticamente e facilmente na teoria behaviorista da aprendizagem – a tentativa e erro, o comportamento observável. No behaviorismo o objectivo da educação é treinar os estudantes a exibirem um determinado comportamento, através de reforços positivos e/ou negativos. A possibilidade e necessidade do professor utilizar as TIC em sala de aula leva o professor (sobretudo os mais experiente) a questionar e eventualmente alterar constantemente os seus métodos pedagógicos e a rever as suas concepções pedagógicas.  Exige-se ao professor que tenha uma postura diferente da tradicional, dado que o objectivo é que o aluno aprenda a aprender, aprenda a pensar, e consiga, por exemplo, saber orientar-se na problemática do acesso à informação, nomeadamente na internet. A aprendizagem para o behaviorismo é entendida como uma modificação do comportamento provocada pelo agente que ensina, pela utilização adequada dos estímulos reforçadores, sobre o sujeito que aprende. Assim, a aplicação desta teoria em sala de aula, adequa-se à utilização das novas tecnologias, tanto quadros interactivos, como pesquisa na internet, por exemplo. Mas, o behaviorista encara o professor como delegador de conhecimento, o que não é completamente consentâneo nem adequado ao ensino necessário nos dias de hoje.
O construtivismo, cujos principais representantes foram Piaget e Vygotsky, compreende a origem do conhecimento na interacção do sujeito com o meio, não apenas na relação aluno-professor. Dadas as analogias e paralelos traçados por Piaget entre a Biologia e a Psicologia, ele mostrou que a inteligência é o principal meio de adaptação do ser humano. O conhecimento é dinâmico, e a inteligência, é, como que uma actividade sistematizadora e organizadora cujo funcionamento prolonga o da organização biológica proposta pelas teorias cognitivistas, chegando mesmo a superá-las, devido à criação de novas estruturas mentais. A teoria construtivista é relacional e Piaget aborda uma questão extremamente importante, que é a motivação, dado que esta constitui um elemento afectivo que impulsiona as estruturas do conhecimento e dá origem a um esforço a ser desenvolvido. As variadas TIC, enquanto meios e recursos que suscitam e necessitam de uma maior intervenção dos alunos, adequam-se ao ponto de vista construtivista, dado que este é relacional. O professor deve acreditar, particularmente na utilização das TIC em sala de aula, que os seus alunos são capazes de aprender sempre, e que, partindo do que o aluno construiu até à data, gerar nova construção do conhecimento. Tudo isto se dá através de métodos activos e relacionais. Outro aspecto que não devemos ignorar no construtivismo enquanto teoria/modelo de aprendizagem mais adequado à “inserção” das TIC em contexto de sala de aula, trata-se da concepção interaccionista de Vygotsky. Para ele, o conhecimento é um produto da interacção social e da cultura e o conhecimento cognitivo do aluno é determinado pela aprendizagem e não o contrário (como em Piaget). Ora, num mundo de tão encadeada rede de relações, onde tudo parece fácil e acessível, onde tudo é resumível, onde se tende a simplificar, onde existe nitidamente uma alteração nos valores tradicionais e uma criação de uma nova tábua de valores, torna-se evidente a importância da relação, da interacção e da motivação no processo de ensino-aprendizagem – particularmente na utilização das TIC em sala de aula. Porquê? A utilização das TIC em sala de aula (todas) pressupõe e exige um carácter de vínculo relacional com os alunos, de interacção permanente e proveitosa, um referencial permanente às vivências exteriores, uma capacidade de adaptação às transformações hiper-regulares da vida quotidiana e às possibilidades de integração dos meios ao dispor do professor para melhor fazer o aluno crescer enquanto pessoa e enquanto aluno.
Se no ensino de matérias eminentemente práticas e/ou demonstrativas, releva a normal concepção construtivista, a acção e tomada de consciência da coordenação das acções, em matérias tradicionalmente mais teóricas, há que vislumbrar as possibilidades das TIC (nomeadamente as redes sociais e de partilha e discussão de informação) constituírem uma oportunidade para motivar os alunos, levá-los a construírem eles próprios o conhecimento, e, modificando as suas estruturas, criando novas estruturas, desenvolverem-se autonomamente enquanto alunos – isto é a aprendizagem. A cooperação, colaboração e interacção nos processos de ensino e aprendizagem são essenciais hoje em dia. O professor já não é o detentor do conhecimento nem os alunos receptores desse conhecimento. O trabalho cooperativo vem ao encontro às necessidades dos alunos na busca e construção do conhecimento. O professor será mais um mediador, orientador do conhecimento, o que mostra os caminhos, aprendendo também com os alunos. Essa construção do conhecimento ocorre através da partilha da informação, proporcionável naturalmente pela utilização adequada das novas tecnologias da informação e da comunicação. Um aspecto extremamente interessante das novas tecnologias refere-se à abordagem de Vygotsky, em que ele diz que a aprendizagem é mais do que a aquisição de capacidades para pensar, é a aquisição de muitas capacidades para pensar sobre várias coisas. – Isto é potenciado pelo uso das TIC em sala de aula – aliás, a internet está a alterar a nossa estrutura do raciocínio (ver artigo) – somos menos propensos a reflectir aprofundadamente sobre determinado assunto mas muito mais capazes de pensar sobre muitas coisas ao mesmo tempo e de relacioná-las, caso haja necessidade – conseguimos então construir conhecimento a partir do acto de pensar.
Por outro lado, a necessidade de interacção e cooperação no processo ensino-aprendizagem pode proporcionar a oportunidade de solidificarmos a base da sociedade: uma sociedade só cresce baseada na cooperação, participação e colaboração de todos – nada melhor que a utilização de tecnologias (particularmente em trabalhos de grupo) que visem a participação de todos, com base na necessária comunicação, de forma a contribuir para um progressivo sentimento e capacidades cooperativas entre os homens de amanhã. Na altura em que, na sala de aula, estejamos a potenciar uma participação activa com o mundo envolvente, estamos a aprender e a transmitir conhecimentos, estando, ao mesmo tempo, a fazer com que os alunos construam os seus conhecimentos de forma interactiva com o meio.
O professor do século XXI tem que conhecer os recursos e fontes disponíveis na internet, que poderão ser aplicados na construção do conhecimento, de professor e de alunos. Há quem diga que a internet contém quase toda a informação que existe no mundo. O acesso a todo este manancial de informação e conhecimento parece, contudo, estar reservado a aqueles que entendem as formas de pesquisa e busca.
Muito se poderia dizer acerca deste recurso, no entanto há que reter a questão primordial neste contexto: hoje em dia é tão importante para o professor conhecer os recursos disponíveis que podem ser aplicados em várias metodologias de ensino quanto as teorias de aprendizagem.

sábado, 6 de novembro de 2010

Novidades editoriais


Na mais recente obra de Alain de Botton, o mundo do trabalho é radiografado. Numa época de falta de emprego, de perigo (crise NÃO), onde quem tem um emprego se pode dar por feliz, onde não temos tempo para pensar o que somos.. O que é? sou professor! Ah é? O que o senhor é é professor? Não é algo antes disso? O senhor é a sua profissão??! OK, nesta época de especialização e estratificação dos processos de produção, o real significado do trabalho escapa-nos, o nosso ou o dos outros. Homo faber? Vivemos do e para o trabalho?? Sem termos uma noção exacta dos seus objectivos, efeitos e contributos para a espécie humana, afinal, o trabalho parece escravizar-nos mais do que servir-nos e satisfazer-nos. Quem o diz é Alain de Botton, que procura enriquecer o nosso entendimento prático da vida contemporânea. Alegrias e Tristezas do Trabalho,é feito de fotografias documentais e descrições fotográficas dos mais diversos cenários de actividade profissional. O autor, despretensioso, a meu ver, com uma linguagem simples e cativante, questiona o valor atribuído à satisfação ou insatisfação proporcionadas pelo trabalho, chegando mesmo a parodiar sobre a nossa quase total sujeição do indivíduo ao trabalho. Esquecemo-nos por vezes da nossa finitude. E como todos sabemos, o trabalho deve ser levado com alegria e boa-disposição, senão é proporcionalmente directa a quantidade de trabalho que temos e a possibilidade de pirarmos!!.. 
Já agora, um vídeo do autor sobre sucesso, fracasso, snobismo e meritocracia na carreira profissional ;)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

TIC e Conteúdos Disciplinares

1.    Como são usadas as TIC na minha disciplina e para quê?
Em Filosofia as TIC podem ser usadas de variadíssimas formas. Para tal, o professor terá que conhecer os alunos que tem à sua frente, para além de dispor dos conhecimentos técnicos suficientes para que as TIC constituam uma mais-valia no ensino da sua disciplina. Na disciplina de Filosofia, as TIC podem ser usadas, em primeira instância, através do “básico” visionamento de apresentações, sobretudo diagramas, esquematizações conceptuais que ajudem o aluno a compreender melhor o sentido de um texto, de um esquema mental ou de uma teoria. Nesta questão, o uso adequado do quadro interactivo revela-se de extrema importância, pois permite ao professor utilizar um só instrumento ora para esquematizar redes e esquemas conceptuais, ora para continuar a analisar o texto de trabalho, ora consultando a net à vista de todos, de forma visível a propósito do esclarecimento de uma qualquer interjeição pertinente. Este recurso constitui, por si só, e dada a familiaridade dos alunos com as novas tecnologias, um atractivo de aproximação e contribui para o interesse na disciplina e para as temáticas a abordar. Terá é que ser utilizado com senso, ponderação e facilidade no uso.
A projecção de documentários, visionamento de vídeos na internet, visionamento de blogues, procura de textos, utilização de dicionários online são algumas das formas que as TIC podem e devem ser utilizadas em benefício da aprendizagem em filosofia.

Qual o impacto das TIC no conteúdo da sua disciplina? Em que medida o conteúdo da sua disciplina foi afectado pelo avanço das tecnologias?
Na sociedade actual, a escola e o ensino, nomeadamente o ensino das humanidades, não pode ser autista, fechar-se sobre si mesmo e excluir as novas tecnologias do processo de ensino-aprendizagem. Não poderemos colocar a escola numa posição de competição com o cariz fantástico das novas tecnologias, sem as tentar introduzir, incorporá-las e colocá-las ao serviço da prática de ensino disciplinar. Os alunos têm uma facilidade enorme no uso das TIC, nomeadamente da internet. No entanto, utilizam-na de forma mágica, como se todas as respostas estivessem à distância de um clique. Abre-se aqui espaço para lançar desafios de investigação e estudo aos alunos sobre os temas a tratar, contribuindo também para o melhoramento da utilização da internet para o fim pretendido. A utilização da internet é importante, na medida em que facilmente podemos demonstrar aos alunos várias perspectivas sobre uma mesma temática, mostrarmos-lhes artigos originais, críticas a livros e excertos de livros de uma forma não possível há uns anos.
Posso afirmar que os conteúdos da disciplina de filosofia foram afectados, não apenas pela facilidade dos alunos encontrarem material e variadíssimas fontes de informação, mas também pelas temáticas em si, que aludem e exigem à reflexão sobre técnica, tecnologia, ciência, sociedade, etc. etc.. Deste ponto de vista, a afectação foi positiva, dado que temos muitos mais instrumentos para cativar e despertar interesse nos alunos menos motivados inicialmente.
Do ponto de vista do professor, a possibilidade de recorremos à internet, aos quadros interactivos, ao visionamento de vídeos online, de conferências, etc.,
obriga a uma actualização permanente e desafiadora, permitindo também abordagens mais interessantes tendo em vista o objectivo final: o processo de ensino-aprendizagem ser efectivo e profícuo. No estudo da lógica, o uso das TIC quase que se exige, pois ajuda no despertar de interesse dos alunos e na explicação em si das dinâmicas “linguístico-esquemáticas” de situações quotidianas propostas pela Lógica.

Que formas de uso das TIC na sua disciplina quer seja pelo professor quer seja pelos alunos ou por ambos consegue identificar? 
Utilização do quadro interactivo em sala de aula (com todas as suas potencialidades); Powerpoint; Apresentações em flash; Criação e gestão de blogues da turma; WebInspiration e programas afins para criação de mapas conceptuais e organogramas simplificadores; Utilização da plataforma moodle para testes e trabalhos de casa, por exemplo; Criação de hábitos de estudo utilizando a internet como mais-valia e ponto de encontro de debate; Utilização de redes sociais na constituição de grupos de discussão;

As actividades propostas aos alunos constituem um complemento ou uma substituição das actividades que se faziam tradicionalmente na disciplina.
As actividades com recurso às TIC propostas aos alunos nas aulas de filosofia constituem, de forma quase equitativa, um complemento e, simultaneamente, uma substituição, dado que pretendem ser despoletadoras de hábitos de leitura e reflexão, no entanto actividades de pesquisa e discussão online podem substituir leituras intensivas e desmotivantes para os alunos, que de outra forma, poderiam não se sentir tão atraídos por estas tarefas.

Quais as mais-valias educativas em relação a outras formas de trabalho?
O ensino online, mesmo que não sistematizado ou integrado, mesmo que de utilizado de forma excepcional, em casos de doença e/ou gravidez, por exemplo, constituem um excepcional e insubstituível recurso que não podemos desprezar, devendo antes potenciar e aproveitar de forma a gerar melhor desempenho escolar.
As actividades com recurso às TIC permitem uma maior proximidade de algumas temáticas ao interesse dos alunos, dado que proporcionam uma maior capacidade do professor se adaptar e adaptar os currículos à realidade quotidiana, com maior liberdade de percurso e de escolhas. As TIC, se bem utilizadas, proporcionam metodologias mais activas em pesquisa e na produção da relação teoria-prática, bem como na efectiva integração dos pais e família na realidade escolar. Outra mais-valia, na minha óptica, trata-se de uma maior e melhor organização do espaço e do tempo – em sala de aula, em casa na internet ou na rua, onde algo significativo para a aprendizagem despertou a vontade de partilhar numa qualquer rede social via telemóvel…

Em que medida o uso de TIC “subverte” a cultura de ensino e aprendizagem típica da sua disciplina?
Não subverte, de todo. Isto porque a utilização das TIC, como outros recursos disponíveis no passado (vídeo VHS, cassetes áudio, visitas de estudo, trabalhos de grupo, etc.) devem ser utilizados, senão com parcimónia, com sobriedade e bom senso por parte do professor, sob pena de se incorrer no uso das TIC como fim em si mesmo e não ao serviço do processo ensino-aprendizagem.
Em variadas áreas de estudo da filosofia, quer no 10º quer no 11º ano, o uso das TIC é quase forçoso, dada a sua extrema utilidade, como no ensino da Lógica e Cibernética, apenas para dar dois exemplos. As próprias TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO constituem tema de debate actual na perspectiva filosófica, nomeadamente uma filosofia da tecnologia para as TIC, catapultadora de abordagens conceptuais e reflexivas sobre cibercultura, ciberespaço, novas formas de existência, a informática enquanto meio de mediação da realidade homem/natureza, o homem ao serviço da técnica vs a técnica ao serviço do homem, novos paradigmas sociais, etc., etc.. O avanço exponencial das novas tecnologias no séc. XXI constitui por si um tema de exploração filosófica enquadrada nos currículos escolares, tais como problemas sociais, ecológicos, democracia, justiça social, determinismo, liberdade e ética, a dinâmica hegemónica e contraditória dos mercados de consumo, da violência e das políticas neoliberais.
Estas são temáticas e problemáticas que se nos deparam e constituem desafio do professor de filosofia: como encarar e projectar a mudança, como explicar e ouvir feedbacks dos alunos sem recorrer ao uso das TIC em sala de aula? É perfeitamente possível, mas menos eficaz para o fim pretendido – desenvolver nos alunos interesse e, consequentemente capacidades de leitura, análise e compreensão dos temas.
A utilização das TIC e o quase “endeusamento” destas tecnologias hoje em dia deve ser aproveitado, dado que é um grande instrumento para a construção de uma cidadania consciente, responsável, activa e informada de jovens adultos.
É óbvio que o visionamento de um vídeo na internet ou de um documentário, sem a adequada metodologia de análise, sem qualquer grelha ou guião orientador não constitui em si qualquer benefício educativo! Daí a necessidade e dificuldade de utilizarmos convenientemente as tecnologias ao serviço do ensino em qualquer disciplina