1. Como são usadas as TIC na minha disciplina e para quê?
Em Filosofia as TIC podem ser usadas de variadíssimas formas. Para tal, o professor terá que conhecer os alunos que tem à sua frente, para além de dispor dos conhecimentos técnicos suficientes para que as TIC constituam uma mais-valia no ensino da sua disciplina. Na disciplina de Filosofia, as TIC podem ser usadas, em primeira instância, através do “básico” visionamento de apresentações, sobretudo diagramas, esquematizações conceptuais que ajudem o aluno a compreender melhor o sentido de um texto, de um esquema mental ou de uma teoria. Nesta questão, o uso adequado do quadro interactivo revela-se de extrema importância, pois permite ao professor utilizar um só instrumento ora para esquematizar redes e esquemas conceptuais, ora para continuar a analisar o texto de trabalho, ora consultando a net à vista de todos, de forma visível a propósito do esclarecimento de uma qualquer interjeição pertinente. Este recurso constitui, por si só, e dada a familiaridade dos alunos com as novas tecnologias, um atractivo de aproximação e contribui para o interesse na disciplina e para as temáticas a abordar. Terá é que ser utilizado com senso, ponderação e facilidade no uso.
A projecção de documentários, visionamento de vídeos na internet, visionamento de blogues, procura de textos, utilização de dicionários online são algumas das formas que as TIC podem e devem ser utilizadas em benefício da aprendizagem em filosofia.
Qual o impacto das TIC no conteúdo da sua disciplina? Em que medida o conteúdo da sua disciplina foi afectado pelo avanço das tecnologias?
Na sociedade actual, a escola e o ensino, nomeadamente o ensino das humanidades, não pode ser autista, fechar-se sobre si mesmo e excluir as novas tecnologias do processo de ensino-aprendizagem. Não poderemos colocar a escola numa posição de competição com o cariz fantástico das novas tecnologias, sem as tentar introduzir, incorporá-las e colocá-las ao serviço da prática de ensino disciplinar. Os alunos têm uma facilidade enorme no uso das TIC, nomeadamente da internet. No entanto, utilizam-na de forma mágica, como se todas as respostas estivessem à distância de um clique. Abre-se aqui espaço para lançar desafios de investigação e estudo aos alunos sobre os temas a tratar, contribuindo também para o melhoramento da utilização da internet para o fim pretendido. A utilização da internet é importante, na medida em que facilmente podemos demonstrar aos alunos várias perspectivas sobre uma mesma temática, mostrarmos-lhes artigos originais, críticas a livros e excertos de livros de uma forma não possível há uns anos.
Posso afirmar que os conteúdos da disciplina de filosofia foram afectados, não apenas pela facilidade dos alunos encontrarem material e variadíssimas fontes de informação, mas também pelas temáticas em si, que aludem e exigem à reflexão sobre técnica, tecnologia, ciência, sociedade, etc. etc.. Deste ponto de vista, a afectação foi positiva, dado que temos muitos mais instrumentos para cativar e despertar interesse nos alunos menos motivados inicialmente.
Do ponto de vista do professor, a possibilidade de recorremos à internet, aos quadros interactivos, ao visionamento de vídeos online, de conferências, etc.,
obriga a uma actualização permanente e desafiadora, permitindo também abordagens mais interessantes tendo em vista o objectivo final: o processo de ensino-aprendizagem ser efectivo e profícuo. No estudo da lógica, o uso das TIC quase que se exige, pois ajuda no despertar de interesse dos alunos e na explicação em si das dinâmicas “linguístico-esquemáticas” de situações quotidianas propostas pela Lógica.
Que formas de uso das TIC na sua disciplina quer seja pelo professor quer seja pelos alunos ou por ambos consegue identificar?
Utilização do quadro interactivo em sala de aula (com todas as suas potencialidades); Powerpoint; Apresentações em flash; Criação e gestão de blogues da turma; WebInspiration e programas afins para criação de mapas conceptuais e organogramas simplificadores; Utilização da plataforma moodle para testes e trabalhos de casa, por exemplo; Criação de hábitos de estudo utilizando a internet como mais-valia e ponto de encontro de debate; Utilização de redes sociais na constituição de grupos de discussão;
As actividades propostas aos alunos constituem um complemento ou uma substituição das actividades que se faziam tradicionalmente na disciplina.
As actividades com recurso às TIC propostas aos alunos nas aulas de filosofia constituem, de forma quase equitativa, um complemento e, simultaneamente, uma substituição, dado que pretendem ser despoletadoras de hábitos de leitura e reflexão, no entanto actividades de pesquisa e discussão online podem substituir leituras intensivas e desmotivantes para os alunos, que de outra forma, poderiam não se sentir tão atraídos por estas tarefas.
Quais as mais-valias educativas em relação a outras formas de trabalho?
O ensino online, mesmo que não sistematizado ou integrado, mesmo que de utilizado de forma excepcional, em casos de doença e/ou gravidez, por exemplo, constituem um excepcional e insubstituível recurso que não podemos desprezar, devendo antes potenciar e aproveitar de forma a gerar melhor desempenho escolar.
As actividades com recurso às TIC permitem uma maior proximidade de algumas temáticas ao interesse dos alunos, dado que proporcionam uma maior capacidade do professor se adaptar e adaptar os currículos à realidade quotidiana, com maior liberdade de percurso e de escolhas. As TIC, se bem utilizadas, proporcionam metodologias mais activas em pesquisa e na produção da relação teoria-prática, bem como na efectiva integração dos pais e família na realidade escolar. Outra mais-valia, na minha óptica, trata-se de uma maior e melhor organização do espaço e do tempo – em sala de aula, em casa na internet ou na rua, onde algo significativo para a aprendizagem despertou a vontade de partilhar numa qualquer rede social via telemóvel…
Em que medida o uso de TIC “subverte” a cultura de ensino e aprendizagem típica da sua disciplina?
Não subverte, de todo. Isto porque a utilização das TIC, como outros recursos disponíveis no passado (vídeo VHS, cassetes áudio, visitas de estudo, trabalhos de grupo, etc.) devem ser utilizados, senão com parcimónia, com sobriedade e bom senso por parte do professor, sob pena de se incorrer no uso das TIC como fim em si mesmo e não ao serviço do processo ensino-aprendizagem.
Em variadas áreas de estudo da filosofia, quer no 10º quer no 11º ano, o uso das TIC é quase forçoso, dada a sua extrema utilidade, como no ensino da Lógica e Cibernética, apenas para dar dois exemplos. As próprias TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO constituem tema de debate actual na perspectiva filosófica, nomeadamente uma filosofia da tecnologia para as TIC, catapultadora de abordagens conceptuais e reflexivas sobre cibercultura, ciberespaço, novas formas de existência, a informática enquanto meio de mediação da realidade homem/natureza, o homem ao serviço da técnica vs a técnica ao serviço do homem, novos paradigmas sociais, etc., etc.. O avanço exponencial das novas tecnologias no séc. XXI constitui por si um tema de exploração filosófica enquadrada nos currículos escolares, tais como problemas sociais, ecológicos, democracia, justiça social, determinismo, liberdade e ética, a dinâmica hegemónica e contraditória dos mercados de consumo, da violência e das políticas neoliberais.
Estas são temáticas e problemáticas que se nos deparam e constituem desafio do professor de filosofia: como encarar e projectar a mudança, como explicar e ouvir feedbacks dos alunos sem recorrer ao uso das TIC em sala de aula? É perfeitamente possível, mas menos eficaz para o fim pretendido – desenvolver nos alunos interesse e, consequentemente capacidades de leitura, análise e compreensão dos temas.
A utilização das TIC e o quase “endeusamento” destas tecnologias hoje em dia deve ser aproveitado, dado que é um grande instrumento para a construção de uma cidadania consciente, responsável, activa e informada de jovens adultos.
É óbvio que o visionamento de um vídeo na internet ou de um documentário, sem a adequada metodologia de análise, sem qualquer grelha ou guião orientador não constitui em si qualquer benefício educativo! Daí a necessidade e dificuldade de utilizarmos convenientemente as tecnologias ao serviço do ensino em qualquer disciplina
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