.Como é que as pessoas aprendem? Concepções e experiências pessoais.
Principais teorias da aprendizagem: definição, princípios e impactos no trabalho educativo?
Que relação entre as abordagens à aprendizagem e as TIC?
Como é que as pessoas aprendem? Concepções e experiências pessoais
Esta temática foi estudada ao longo dos tempos. Nos primórdios da filosofia, a preocupação com a origem e natureza do conhecimento foram centrais nos pensamentos de Platão e Aristóteles. Ao longo da história da filosofia no ocidente, vários pensadores se debruçaram sobre as teorias destes filósofos, naturalmente relevantes para a educação. Hoje em dia, estas questões não são já exclusivas preocupações dos filósofos que se dedicam à problemática das questões epistemológicas, mas têm sido objecto de investigação dos denominados cientistas cognitivos. As Ciências Cognitivas referem-se ao estudo interdisciplinar relativo à cognição, aquisição e à utilização do conhecimento.
Na minha óptica, as pessoas aprendem de variadíssimas formas, tanto com mais eficácia e proficuidade quanto mais diversidade de técnicas estimulam o intelecto e a maleabilidade do cérebro. Em primeira instância, há que verificar os denominados pré-requisitos, conceitos prévios que os alunos têm de como o mundo funciona, pois sem haver essa preocupação, haverá uma maior dificuldade na compreensão de novos conceitos e informações (daí a importância da realização de testes diagnósticos sérios e adaptados). Se não considerarmos os conhecimentos prévios dos alunos, podemos incorrer na possibilidade destes estudarem apenas para o teste, respondendo apenas o que “o professor espera”, não ajudando os alunos a aprender de forma útil, a ter uma visão dinâmica das matérias. Pela minha experiência, e transversal a qualquer nível de ensino, e com vista ao desenvolvimento real de competências por parte dos alunos, estes têm que possuir um suporte sólido de conhecimento factual e saber organizar o conhecimento para facilitar a recuperação das coisas preexistentes que se desconhecem (apelidá-lo-emos de inconsciente do conhecimento) e posterior aplicação dos conhecimentos adquiridos. A estrutura cognitiva do nosso cérebro carece de organização e estruturação do conhecimento – daí a relevância da organização e sistematização dos processos de ensino-aprendizagem. Da perspectiva cognitivista podemos retirar a forma organizada como a apreensão de conceitos funciona e consequente aplicação do conhecido através da relação com os outros e o mundo em geral. Se, a esta concepção, aliarmos um método claro de exposição dos objectivos pretendidos aos alunos, para que estes assumam o controlo da aprendizagem, monitorizando o processo, estamos a facultar-lhes ferramentas para pensarem autonomamente. O que defendo é que a transmissão de conhecimento deve ser feita sempre atendendo aos conhecimentos prévios dos alunos e com recursos a vários exemplos onde se integre o conceito a explicar.
É possível retirar apenas o que é bom das várias teorias da aprendizagem e concentrá-las numa prática docente verdadeiramente profícua, eficaz, integradora e potenciadora do desenvolvimento do indivíduo? Não me parece! Não existem professores nem alunos perfeitos e/ou ideais, nem o mundo o é! No entanto, podemos e devemos retirar o que de melhor existe nas várias concepções da aprendizagem, muito debatidas e desenvolvidas nos últimos 100 anos. Da concepção tradicional, pouco retiraria, (apenas o método verdadeiramente expositivo numa fase inicial e contextualizante) pois o ensino centrado no professor e na mera reprodução de conceitos não fará com que o aluno realmente desenvolva o pensamento e raciocínio próprio, não tendo, para além disso, obviamente, os alunos, o mesmo ritmo de aprendizagem. O ensino hoje em dia encontra-se em transformação (como sempre), e dado a exponencial explosão da informação, acessibilidade, alteração de valores tradicionais, mediatização da sociedade, etc., existe a necessidade de haver uma abertura e investigação constante por parte do professor, sempre verificando a melhor forma de lidar com os alunos e deles retirar o melhor (estímulo / reforço), ao mesmo tempo que lhes devemos proporcionar as ferramentas para pensarem por si próprios. Da pouca experiência que possuo, e sobretudo em adolescentes, o ensino tendo em atenção as concepções construtivistas do conhecimento é o que mais se adaptará a sociedade actual, dada a informação disponível hoje em dia, dada a experiência individual cada vez mais rica dos alunos, dada a necessidade de integrar o ensino com a dinâmica social, cultural e interaccionista existentes.
Principais teorias da aprendizagem: definição, princípios e impactos no trabalho
De uma forma muito geral, a aprendizagem é um processo de construção pessoal, de experiência interior e que pressupõe modificação de comportamentos no indivíduo. Seguir-se-á uma breve e resumida caracterização, sobretudo das vantagens e desvantagens de cada uma das 4 principais teorias da aprendizagem.
Na teoria behaviorista / comportamentalista, o indivíduo aprende por associação e/ou resposta, fazendo dele um agente passivo. Esta teoria teve origem no princípio do século XX, com os primeiros estudos de aprendizagem da Escola Russa de Reflexologia, com Pavlov e Watson. Esta teoria teve várias fases, teses e autores. Segundo o condicionamento clássico destes pensadores, o comportamento do aluno é em função do estímulo, o ensino seria o fornecimento de estímulos adqueados por parte do formador, dependendo a aprendizagem apenas dos estímulos fornecidos. Segundo o condicionamento operante de Skinner, o ensino funcionaria como o adequar das contingências de reforço ao aluno, devendo o professor fazer surgir o comportamento desejável, usando os estímulos e reforços apropriados. Esta concepção e aplicabilidade diminui o papel do aluno enquanto construtor da sua própria aprendizagem, e, por outro lado, o reforço nem sempre funciona devido aos diferentes significados e consequências para cada aluno. É um método que se adequava aos objectivos de massificação do ensino.
Para Bandura, a aprendizagem dá-se por referência ao vículo social, sendo esta uma observação da execução de modelos sociais e das suas respectivas consequências. Porém, a aprendizagem pode acontecer em situações sociais, mas nem todas as aprendizagens. Por outro lado, um indivíduo não necessita de experimentar todos os passos através de um comportamento mais complexo para o aprender, muitos comportamentos podem ser facilmente ensinados por exposição ao modelo. Como grande vantagem, os indivíduos intervêm no processo de aprendizagem.
Nas teorias cognitivistas, há um reconhecimento da importância dos processos internos na modificação do comportamento humano, e, consequentemente, na aprendizagem. Nesta aprendizagem, O conteúdo que vai ser aprendido não é dado, mas descoberto e incorporado. O padrão de comportamento é resultante de estruturas orgânicas inatas. Estas teorias identificam as várias estruturas e processos subjacentes ao acto de aprender. Se por um lado, tais concepções reduzirão a importância da relação com os pares, atribuem importância às características de cada indivíduo e a sua experiência anterior, sendo a aprendizagem uma atribuição de significados e intencional. É um processo de ensino baseado no ensaio-erro, na pesquisa, na investigação e na solução de problemas.
As teorias humanistas dão ênfase à dimensão relacional da aprendizagem, sendo esta centrada na pessoa. Promovem valores como autenticidade, confiança, respeito, aceitação e tolerância, sendo a aprendizagem um processo com uma tendência actualizante, não directiva, com base numa aceitação de opiniões positiva e incondicional, promovendo uma compreensão empática entre professor e aluno – tendo sempre como suporte a congruência atitudinal.
A aprendizagem dá-se num espírito de liberdade, colaboração, criatividade, espontaneidade e empatia. Como vantagens, facilita a aprendizagem, dada que esta é percepcionada pelos alunos como relevante. Por outro lado, uma aprendizagem que implique mudanças na percepção do self do aluno poderá tender para a resistência. Esta concepção de aprendizagem pressupõe e promove a auto-iniciativa do aluno, concretizando-se realmente quando o formador é autêntico. Para uma aprendizagem adequada torna-se necessário que o formando aprenda a aprender, sendo receptivo e, simultaneamente, opinador e construtor do próprio conhecimento. As estratégias e técnicas de ensino têm, de um certo ponto de vista, importância secundária, interessa mais o desenvolvimento da pessoa com liberdade para aprender, é um ensino centrado no aluno.
Que relação entre as abordagens à aprendizagem e as TIC?
As TIC, enquanto instrumento fundamental nos dia de hoje em qualquer âmbito disciplinar, constituem um desafio no que diz respeito à integração e relação com as teorias da aprendizagem atrás referidas. Em primeira instância, e sem grande aprofundamento, as TIC em educação enquadrar-se-ão automaticamente e facilmente na teoria behaviorista da aprendizagem – a tentativa e erro, o comportamento observável. No behaviorismo o objectivo da educação é treinar os estudantes a exibirem um determinado comportamento, através de reforços positivos e/ou negativos. A possibilidade e necessidade do professor utilizar as TIC em sala de aula leva o professor (sobretudo os mais experiente) a questionar e eventualmente alterar constantemente os seus métodos pedagógicos e a rever as suas concepções pedagógicas. Exige-se ao professor que tenha uma postura diferente da tradicional, dado que o objectivo é que o aluno aprenda a aprender, aprenda a pensar, e consiga, por exemplo, saber orientar-se na problemática do acesso à informação, nomeadamente na internet. A aprendizagem para o behaviorismo é entendida como uma modificação do comportamento provocada pelo agente que ensina, pela utilização adequada dos estímulos reforçadores, sobre o sujeito que aprende. Assim, a aplicação desta teoria em sala de aula, adequa-se à utilização das novas tecnologias, tanto quadros interactivos, como pesquisa na internet, por exemplo. Mas, o behaviorista encara o professor como delegador de conhecimento, o que não é completamente consentâneo nem adequado ao ensino necessário nos dias de hoje.
O construtivismo, cujos principais representantes foram Piaget e Vygotsky, compreende a origem do conhecimento na interacção do sujeito com o meio, não apenas na relação aluno-professor. Dadas as analogias e paralelos traçados por Piaget entre a Biologia e a Psicologia, ele mostrou que a inteligência é o principal meio de adaptação do ser humano. O conhecimento é dinâmico, e a inteligência, é, como que uma actividade sistematizadora e organizadora cujo funcionamento prolonga o da organização biológica proposta pelas teorias cognitivistas, chegando mesmo a superá-las, devido à criação de novas estruturas mentais. A teoria construtivista é relacional e Piaget aborda uma questão extremamente importante, que é a motivação, dado que esta constitui um elemento afectivo que impulsiona as estruturas do conhecimento e dá origem a um esforço a ser desenvolvido. As variadas TIC, enquanto meios e recursos que suscitam e necessitam de uma maior intervenção dos alunos, adequam-se ao ponto de vista construtivista, dado que este é relacional. O professor deve acreditar, particularmente na utilização das TIC em sala de aula, que os seus alunos são capazes de aprender sempre, e que, partindo do que o aluno construiu até à data, gerar nova construção do conhecimento. Tudo isto se dá através de métodos activos e relacionais. Outro aspecto que não devemos ignorar no construtivismo enquanto teoria/modelo de aprendizagem mais adequado à “inserção” das TIC em contexto de sala de aula, trata-se da concepção interaccionista de Vygotsky. Para ele, o conhecimento é um produto da interacção social e da cultura e o conhecimento cognitivo do aluno é determinado pela aprendizagem e não o contrário (como em Piaget). Ora, num mundo de tão encadeada rede de relações, onde tudo parece fácil e acessível, onde tudo é resumível, onde se tende a simplificar, onde existe nitidamente uma alteração nos valores tradicionais e uma criação de uma nova tábua de valores, torna-se evidente a importância da relação, da interacção e da motivação no processo de ensino-aprendizagem – particularmente na utilização das TIC em sala de aula. Porquê? A utilização das TIC em sala de aula (todas) pressupõe e exige um carácter de vínculo relacional com os alunos, de interacção permanente e proveitosa, um referencial permanente às vivências exteriores, uma capacidade de adaptação às transformações hiper-regulares da vida quotidiana e às possibilidades de integração dos meios ao dispor do professor para melhor fazer o aluno crescer enquanto pessoa e enquanto aluno.
Se no ensino de matérias eminentemente práticas e/ou demonstrativas, releva a normal concepção construtivista, a acção e tomada de consciência da coordenação das acções, em matérias tradicionalmente mais teóricas, há que vislumbrar as possibilidades das TIC (nomeadamente as redes sociais e de partilha e discussão de informação) constituírem uma oportunidade para motivar os alunos, levá-los a construírem eles próprios o conhecimento, e, modificando as suas estruturas, criando novas estruturas, desenvolverem-se autonomamente enquanto alunos – isto é a aprendizagem. A cooperação, colaboração e interacção nos processos de ensino e aprendizagem são essenciais hoje em dia. O professor já não é o detentor do conhecimento nem os alunos receptores desse conhecimento. O trabalho cooperativo vem ao encontro às necessidades dos alunos na busca e construção do conhecimento. O professor será mais um mediador, orientador do conhecimento, o que mostra os caminhos, aprendendo também com os alunos. Essa construção do conhecimento ocorre através da partilha da informação, proporcionável naturalmente pela utilização adequada das novas tecnologias da informação e da comunicação. Um aspecto extremamente interessante das novas tecnologias refere-se à abordagem de Vygotsky, em que ele diz que a aprendizagem é mais do que a aquisição de capacidades para pensar, é a aquisição de muitas capacidades para pensar sobre várias coisas. – Isto é potenciado pelo uso das TIC em sala de aula – aliás, a internet está a alterar a nossa estrutura do raciocínio (ver artigo) – somos menos propensos a reflectir aprofundadamente sobre determinado assunto mas muito mais capazes de pensar sobre muitas coisas ao mesmo tempo e de relacioná-las, caso haja necessidade – conseguimos então construir conhecimento a partir do acto de pensar.
Por outro lado, a necessidade de interacção e cooperação no processo ensino-aprendizagem pode proporcionar a oportunidade de solidificarmos a base da sociedade: uma sociedade só cresce baseada na cooperação, participação e colaboração de todos – nada melhor que a utilização de tecnologias (particularmente em trabalhos de grupo) que visem a participação de todos, com base na necessária comunicação, de forma a contribuir para um progressivo sentimento e capacidades cooperativas entre os homens de amanhã. Na altura em que, na sala de aula, estejamos a potenciar uma participação activa com o mundo envolvente, estamos a aprender e a transmitir conhecimentos, estando, ao mesmo tempo, a fazer com que os alunos construam os seus conhecimentos de forma interactiva com o meio.
O professor do século XXI tem que conhecer os recursos e fontes disponíveis na internet, que poderão ser aplicados na construção do conhecimento, de professor e de alunos. Há quem diga que a internet contém quase toda a informação que existe no mundo. O acesso a todo este manancial de informação e conhecimento parece, contudo, estar reservado a aqueles que entendem as formas de pesquisa e busca.
Muito se poderia dizer acerca deste recurso, no entanto há que reter a questão primordial neste contexto: hoje em dia é tão importante para o professor conhecer os recursos disponíveis que podem ser aplicados em várias metodologias de ensino quanto as teorias de aprendizagem.
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